Você já deve ter reparado a quantidade de gente negra, gorda e trans hoje em dia nos comerciais de maquiagens. As pessoas estão cobrando posicionamento da indústria porque desenvolveram a consciência de que “se eu não me vejo, não consumo”. Mas será que as marcas passaram a nos enxergar ou tudo não passa de oportunismo?
Já tem um tempo que tratamos de consumo consciente aqui no blog. Falamos de marcas e espaços que reconhecem e valorizam nossa negritude aqui na Bahia, da relevância do casting repleto de modelos negros no desfile da LAB, e até de filtros solares com bons pigmentos para pele negra. Tudo isso diz respeito sobre representatividade.
E não é isso que o movimento busca? Talvez não só isso. A representatividade das minorias nas campanhas publicitárias há de ser reconhecida, mas o problema é que essa representatividade não sai daí. Apenas dar visibilidade a gente negra, gorda, trans e deficiente nas propagandas é insuficiente.
Peguemos o exemplo de uma marca que trabalha com vendas por revistas. É super cômodo exibir uma mulher cega nessa propaganda que saiu semana passada, pagar de desconstruída, mas não traduzir seu catálogo pro braile para que essa mesma mulher cega possa ter autonomia de comprar.
Tá pensando que para por aqui? Chamar Tássia Reis e Liniker (primeira foto), junto com todo seu sucesso, para estrelar uma campanha é facílimo! Quero ver fazer base ou corretivo pros dois na linha de maquiagem que eles mesmos fazem propaganda. Porque não patrocinar um CD? E ainda: quero ver dar oportunidade a um negro ou negra sem sucesso midiático.
Deixemos então de falar sobre representatividade, para falar de buzz, publicidade, marketing. O que não tem nenhum problema, já que esse é o objetivo da indústria: vender. As empresas abordam os temas que abordam porque vêem ali um nicho a ser explorado. E se for preciso pagar de socialmente responsável para vender mais, isso vai acontecer.
Não é só no Brasil que as empresas sofrem essa pressão. Nos Eua, por exemplo, a L’Óreal chamou mulheres, homem, lgbt, de várias tonalidades para anunciar as novas cores de base. E olha que os blogueiros contratados nem eram tão famosos assim.
https://www.instagram.com/p/BJ_cTNvDP23/?taken-by=herdeiradabeleza
Já o mesmo não aconteceu quando a mesma marca chamou a primeira drag queen para aparecer em uma campanha. Ninguém menos que Miss Fame, do programa RuPaul’s Drag Race, participou de comerciais e ações da marca ao redor do mundo.
https://youtu.be/07WeASgbBUU
Eu gostaria de ver essa estratégia de humanização das marcas mais engajadas com os movimentos sociais, em um espaço off-line, ou, pelo menos, intencionadas com a não exclusividade da aparição. Cruzando os anúncios com os dados da pesquisa sobre o mercado brasileiro de maquiagem, a conclusão é que talvez as empresas não estejam tão envolvidas com nossas causas, e sim, com o sucesso que podemos lhes oferecer.
Exatamente e na hora de contratar vendedora e pessoas para trabalhar na empresa fazem acepção e agem de forma preconceituosa.
O questionamento é legal e gostei do ponto que ele pesa a eficácia da representatividade, contrastada com a inexistência de um envolvimento real, mas é foda porque, basicamente, o meio publicitário tem se rendido à demanda popular: “você pediu pra se ver nos meus comerciais, então toma”. E, obviamente, com a intenção de abranger um maior público (“você se viu, agora compra”), por isso os nomes conhecidos, na medida do possível, mas se não for desta forma, qual será o impacto, dentro desse mesmo mercado?
Teve marca fazendo ação com MC Carol, Dia da Mulher com Candy Mel (da Banda Uó), Pabblo Vittar, entre outros nomes, e se não fosse por eles, talvez elas nem tivessem saltado na minha timeline. É um meio de alcançar o target e virar notícia; vender, mas, ao menos por enquanto, me parece o caminho mais óbvio.
O que não podemos é deixar esses movimentos serem unicamente pautados pelo meio publicitário, pois, assim como hoje atendem essa demanda de um público que exige representatividade, amanhã podem estar lidando com outra completamente diferente, nos deixando de lado outra vez.
A gente quer comprar, quer se ver e que outros se vejam, mas a nossa luta vai bem além da nova base de marca X.
Bem legal seu ponto de vista e foi aquilo que tratei no texto. Adoro quando me reconheço nas propagandas. Mas saindo delas, nada passou de uma pregação pra atrair sucesso pra marca (que é isso que ela quer, e não necessariamente o que eu desejo). Explico. Me diz pra quê colocar uma moça cega na propaganda se ela não vai poder comprar sozinha quando pegar a revista. Me diz porque chamar Liniker se ele não encontra o tom dele no bb cream. Entendeu?