Herdeira da Beleza - Por Tássio Santos

Bases Negra Rosa: Quando a imagem se torna um ato político

“Não é fácil uma grande empresa chamar uma blogueira negra pra assinar uma linha de maquiagem porque eles querem números, muitos números. Só que, pode ter a qualidade que for, pouquíssimas alcançam esse resultado. Então conversando com uns amigos…” Pausa. Quem conta essa história é a administradora e blogueira Rosangela José da Silva, que na internet é conhecida como Negra Rosa, nome que ela deu ao seu blog e mais recentemente a sua marca.

Ter pele escura e gostar de maquiagem é um constrangimento há anos aqui no Brasil. Encontrar o tom certo de base, corretivo e pó, sem dúvida, é a principal dificuldade na hora de se maquiar. Até já discutimos que essa questão vai muito além do fato de não poder consumir. Mas esse lançamento com certeza vai te dar uma mãozinha.

Aos 38 anos, Rosangela tomou uma iniciativa rara no país. Ela conseguiu lançar uma linha de bases exclusivas pra pele negra. Conquista essa que não é vista desde 1989, quando Maria do Carmo registrava a Muene, a primeira marca brasileira de maquiagem específica pro povo preto.

Criada em 2016, a marca Negra Rosa ainda está “engatinhando”, como a própria Rosangela costuma dizer. Mas, apesar de estar no comecinho, ela já possui uma linha de batons com diferentes texturas e acabamentos, além de uma base com cinco tons pra pele negra. Os produtos são vendidos através do site ou com as revendedoras autorizadas.

Na hora de escolher as características da base, ela já sabia muito bem o que queria: um produto com cobertura de leve à média, que tivesse uma boa fixação, mas que não pesasse na pele ao longo do dia.

Com relação aos tons e subtons (que pra mim era a parte mais difícil em confeccionar uma base, visto que o mercado nacional não contempla consumidoras negras e brancas da mesma maneira), Rosangela explica de maneira simples: foi misturando várias bases que ela já tinha pra alcançar os tons desejados.

Por ser uma grande amante de maquiagem, ela foi selecionando as melhores cores pra conseguir fazer as suas próprias. Depois disso, foi experimentando junto com amigas até chegar em tons que respeitassem nossas particularidades. O resultado? Cerca de um ano até o produto ser aprovado do jeito que ela queria.

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Eu já testei e gostei muito do resultado. A base cobre naturalmente bem e não deixa aquele aspecto feio de maquiagem. Ela tem uma textura bem fininha, do jeito que eu gosto, e esfuma facilmente na pele – ideal pra quem quer um produto fácil de trabalhar, sabe?

Sobre expandir a cartela de cores, Rosangela diz que pretende, sim, criar novos tons, mas mantendo o foco em pele negra. Ela quer seguir dentro de seu segmento, dando assistência ao público que sempre a seguiu. Ela também não descarta a possibilidade de criar uma base com outras características, como uma de cobertura alta por exemplo. “Já pensou que chic?”, planeja.

Das dificuldades em empreender no mercado de beleza, a mais expressiva é o recurso financeiro pra investir nesse negócio. Negra Rosa é uma marca cruelty free e calhou da base não ter nenhum ingrediente de origem animal, ou seja, é um produto vegano. Mas a gente já sabe que os selos não são nada baratos, né?

Educar um público que não está totalmente acostumado a consumir maquiagem também é desafiador. Desde o ano passado que Rosangela se dedica integralmente ao seu negócio. “Eu passo muito tempo on-line. É todo um trabalho pra mostrar pras mulheres que agora tem um produto no tom delas”, comenta.

O lançamento de Negra Rosa tem um significado importante pra comunidade negra. Só nos últimos anos que as grandes marcas nacionais começaram, bem timidamente, a enxergar a nossa existência. E, apesar de nossa situação está melhor do que nunca, saber que tem uma mulher negra lucrando com isso é muito especial e inspirador.

E como aqui o assunto beleza está sempre contextualizado, claro, a blogueira diz como conseguiu transformar a sua imagem em um ato político. “Eu posso não estar falando de racismo toda hora, mas eu estou dizendo a todo mundo que eu sou uma pessoa negra. Eu quero que as pessoas possam me ver e se acharem bonitas tendo o cabelo crespo e o nariz largo.”

2 thoughts on “Bases Negra Rosa: Quando a imagem se torna um ato político

  1. Tenho ouvido falar muito dessa marca, só não comprei on line porque sou péssima para escolher o tom certo, então quando estiver em salvador irei entrar em contato com uma revendedora para me ajudar. Acho importante valorizar o trabalho de mulheres negras brasileiras, as grandes marcas já têm seu público e não possuem os mesmos desafios.

  2. Além das mulheres da minha família, a Rosa é uma inspiração pra mim. Você (Tássio), a Rosa, a Pati Avelino, a Gabi são minhas referências no quesito pele negra. Por mais pessoas como vocês.

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